Tão chateado que não consigo nem me expressar. Nem sei
se a palavra é essa. É uma raiva de mim mesmo, uma vontade de autopunição, como
se, ironicamente, já não fosse punido o suficiente. O desejo é de ser
martirizado, subir em praça pública e levar tomates na cara. Talvez a dor e a
vergonha me façam aprender. Não, já passei por isso e não aprendi. Então o quê?
Tão confuso que a resposta mais óbvia, aquela estampada na sua frente, parece
não fazer sentido algum. Já levei os tomates na cara, não aprendi, mas ainda
sim, desejo mais e mais. Talvez agora alguém tenha compaixão. E um pouco de dó
de mim, me façam aprender. Mas também já passei por isso. Então o quê? Sensação
de nada. Droga! Nunca vi nada dizer tanta coisa de uma só vez. Enquanto estou
parado, e nada acontece, nada é sentido, nada é nada, os tomates vêm em minha
direção numa velocidade frenética de todos os lados. Mas nem sinto dor, nem dó,
nem vergonha. Até gosto. É uma sensação de merecimento. Como se tudo que é
jogado em mim fosse uma espécie de pagamento pelo que eu já joguei nos outros.
Sim, também já atirei tomates. A diferença é que dessa vez eu não estou me
defendendo. Nem quero. Quero receber o que mereço. Parei de culpar a vida pelos
meus erros. Os erros são meus. São seus. A vida só vai conduzindo a história.
Os atos são meus. São seus. Não posso exigir mais que isso. Talvez por essa
razão não esteja me defendendo dos tomates. Ao contrário, grito: Joguem. Joguem
mais! Nessa tentativa de sentir dor, misericórdia, e vergonha, espero que tudo
sirva de redenção com a vida. Aceite. Eu também aceito. É esse o meu pagamento.
Trato feito! Ora, e quem sou eu para querer colher flores, se só plantei
desilusão no meu jardim?
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